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Lítio no Afeganistão: EUA anunciam que reservas do mineral podem ser as maiores do mundo

19 de junho de 2010

Após quase uma década de ocupação militar, esta semana os Estados Unidos anunciaram a “descoberta” de grandes depósitos de minerais estratégicos no Afeganistão. Dentre as “descobertas” anunciadas estão vastas reservas de cobre e lítio, minerais estratégicos para as indústrias de materiais elétricos, indústrias de equipamentos eletroeletrônicos e de comunicação.

O lítio, em especial, é um mineral absolutamente fundamental para o desenvolvimento atual de baterias elétricas, como a utilizadas nos celulares, aparelhos de MP3, notebooks e, mais recentemente, nos carros elétricos.

As maiores reservas atualmente conhecidas de Lítio localizam-se no altiplano boliviano. Além da Bolívia,  Chile e Peru possuem algumas das maiores reservas de cobre do mundo, outro mineral fundamental para a indústria de materiais elétricos. Como vem sendo muito bem defendido por Fernando Sebben, a região central da América do Sul, incluindo Bolívia e Peru, teria um grande potencial de desenvolvimento associado à indústria da “Era da Informação”, caso estes recursos minerais fossem industrializados na região ao invés de exportados em estado bruto.

O potencial do lítio, no caso sul-americano é gigantesco, e o Brasil pode vir a ser um importante protagonista neste tipo de projeto, caso venha a ajudar a financiar empresas de equipamentos eletro-eletrônicos nestes países (Bolívia, Chile, Peru),  integradas às cadeias produtivas nacionais. Além de fortalecer o Mercosul e apoiar um novo ciclo de desenvolvimento nestes países, o Brasil poderia liderar um novo processo de desenvolvimento regional intrinsecamente ligado à Indústria da “Era da Informação”. Tudi indica, também, que o lítio será essencial para a nova geração de carros elétricos,  que dependem principalmente de baterias de íons de lítio, as mais eficientes produzidas na atualidade.

Entretanto esse tipo de processo de desenvolvimento de uma nova indústria, integrada regionalmente, não pode ser considerado livre de possíveis percalços e desafios. Assim como é um potencial veículo de desenvolvimento e integração regional, a presença de ricas reservas de recursos minerais estratégicos também são uma potencial fonte de conflitos, separatismo, guerras civis e desintegração de Estados, principalmente em países que apresentam baixos índices de capacidade estatal. Isso reforça a necessidade de cooperação regional e de planejamento do desenvolvimento conjunto dos países envolvidos em empreendimentos desta natureza.

No caso do Afeganistão a situação é ainda mais complicada. A existência de ricas reservas de minerais estratégicos no país é conhecida desde, pelo menos, os anos 1970, quando geólogos da então União Soviética identificaram as principais reservas de recursos minerais do país em um programa de cooperação técnica entre a URSS e o Afeganistão (ver mapa em anexo ou acesar o mapa soviético em pdf, também disponível no site do British Geological Survey).

Entretanto, três décadas de guerras intermitentes inviabilizaram qualquer perspectiva de extração destes recursos, o que exige investimentos de longo prazo, portanto, estabilidade.

Embora ainda não seja possível vislumbrar o fim do conflito no Afeganistão, é bem provável que em breve o país assista uma explosão nos investimentos nas áreas ligadas à mineração destes recursos estratégicos, possivelmente associados a novos gastos privados em segurança.

A seguir está a notícia que saiu no portal da Revista Istoé, relativa à  (re)descoberta das reservas de lítio em solo Afegão, que pode ajudar a esclarecer algumas questões sobre este tema tão complexo.

Lucas K. Oliveira

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Revista Istoé

18/06/2010

“O deserto de US$ 1 trilhão”

Americanos encontram no Afeganistão uma das maiores reservas de lítio do planeta. Resta saber se o metal, usado na fabricação de baterias de carros elétricos e telefones celulares, será capaz de reerguer o país

André Julião

Não bastasse o petróleo, os EUA descobriram o que pode ser uma segunda mina de ouro no Afeganistão – mais precisamente, além de mina de ouro, de ferro, cobre, cobalto, nióbio e lítio. O tesouro está em reservas no solo do deserto afegão, que, juntas, são avaliadas em cerca de US$ 1 trilhão. Segundo o governo americano, a nova riqueza poderia alterar drasticamente a economia do país – baseada no comércio ilegal de drogas – e mesmo a guerra que ocorre desde muito antes da invasão dos EUA, em 2001.

De acordo com um memorando interno do Pentágono, obtido pelo jornal “The New York Times”, a quantidade de metal no solo poderia transformar o Afeganistão na “Arábia Saudita do Lítio”, uma referência ao maior exportador de petróleo do mundo, no Oriente Médio. As reservas afegãs seriam equivalentes às da Bolívia, maior fornecedor mundial. O metal é o principal ingrediente nas baterias recarregáveis usadas em celulares, computadores e carros elétricos.

É exatamente aí que reside um dos maiores mercados potenciais do lítio. As versões mais novas das baterias que o utilizam têm metade do peso, o dobro de potência de suas antecessoras de níquel e armazenam o triplo de energia. Graças a esse avanço, já existem carros elétricos com 450 quilômetros de autonomia e que chegam aos 100 quilômetros por hora. O Prius, da Toyota, torna-se cada vez mais popular nos EUA, com um motor a gasolina combinado com outro elétrico. No ano que vem, a GM lança o Volt e a Renault-Nissan o Leaf, ambos totalmente elétricos.

Outro incentivo para o desenvolvimento dessa tecnologia se deu em fevereiro de 2009, quando o presidente Barack Obama assinou o pacote de ajuda para tirar os Estados Unidos da crise econômica mundial. Entre a série de medidas estão previstas concessões fiscais de US$ 2,4 bilhões para a produção de componentes dos carros elétricos. De acordo com a lei, as baterias de lítio recebem a maior parte desse investimento. São US$ 940 milhões em concessões a fornecedores de insumos, fabricantes e recicladores.

“O Afeganistão precisa, antes de tudo, ser pacificado”

Renatho Costa, especialista em Oriente Médio

Segundo Renatho Cos­ta, especialista em Oriente Médio e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, levar os dividendos desse mercado à população afegã não é tão fácil. “O país tem um governo extremamente corrupto. É preciso um novo modelo de administração”, diz. Além disso, o grupo armado Talebã, que trava uma guerra contra as forças de ocupação americanas, pode inviabilizar a exploração. “O Afeganistão precisa, antes de tudo, ser pacificado”, afirma.

Além da instabilidade política, deve-se considerar que a mineração não garante lucros em um curto prazo. E que eles não necessariamente melhoram as condições de vida da população. Basta lembrar que a Bolívia detém metade das reservas mundiais de lítio e continua tendo alguns dos piores indicadores sociais do mundo. “O ganho de exploração sobre o minério bruto é muito pequeno. É preciso uma indústria que faça um beneficiamento mínimo”, diz João Zuffo, coordenador do Laboratório de Circuitos Integráveis da Universidade de São Paulo (USP).

Revista Istoé – n° Edição: 2119 | 18.Jun – 21:00 | Atualizado em 29.Ago.10 – 23:47
http://www.istoe.com.br/reportagens/81450_O+DESERTO+DE+US+1+TRILHAO

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Mapas em anexo



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